Autores de estudo anti-cloroquina publicam retratação
Os autores do estudo concluíram que não podem mais “garantir a veracidade das fontes de dados primárias”.
Publicado na revista médica britânica “The Lancet” em 22 de maio, um artigo sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento da coronavírus foi responsável pela suspensão de estudos sobre o medicamento em alguns países.
Nesta quinta-feira (4), no entanto, três dos quatro autores do artigo emitiram uma retratação. A movimentação acontece após detecção de graves falhas¹ no banco de dados utilizado para produzir o trabalho.
Fornecidos pela empresa Surgisphere, dos Estados Unidos, os dados foram questionados posteriormente por outros cientistas e por uma investigação do jornal britânico “The Guardian“.
A reportagem² mostrou que a Surgisphere é uma empresa com pouca presença on-line e sem histórico relevante na área da saúde.
A companhia não tem mais do que seis funcionários, entre eles um escritor de ficção científica, que é apresentado como editor de ciência, e uma modelo de conteúdo adulto, listada como executiva de marketing.
Um dos quatro autores do estudo publicado na “The Lancet” é o médico Sapan Desai, executivo-chefe da Surgisphere, que já foi citado em três ações judiciais de más práticas médicas, não se retratou, afirmando³ que as acusações eram “fantasiosas”.
Os três outros autores que assinaram o artigo com Desai — Mandeep Mehra, Frank Ruschitzka e Amit Patel — são os responsáveis pela nota de retratação publicada abaixo na íntegra:
“Hoje, três dos autores do artigo ‘Hydroxychloroquine or chloroquine with or without a macrolide for treatment of COVID-19: a multinational registry analysis’ pediram a retirada de seu estudo. Eles não conseguiram completar uma auditoria independente dos dados que sustentam sua análise. Como resultado, eles concluíram que não podem mais ‘garantir a veracidade das fontes de dados primárias’.
A ‘The Lancet’ leva a sério as questões referentes à integridade científica e há muitas questões pendentes sobre a empresa Surgisphere e os dados que supostamente foram incluídos neste estudo. Seguindo as diretrizes do Comitê de Ética em Publicações (COPE, em inglês) e do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (ICMJE, em inglês), análises institucionais das colaborações de pesquisa da Surgisphere se fazem urgentes e necessárias.
A nota de retratação foi publicada hoje, 4 de junho de 2020. O artigo será atualizado e vai conter essa informação em breve.
Os autores do estudo não fizeram ensaios clínicos: eles analisaram os dados da base da empresa ‘Surgisphere’, que pertence a um dos autores. Segundo o estudo publicado na ‘The Lancet’, as informações haviam sido coletadas de 671 hospitais em 6 continentes.”